Entrada dos Palmitos

São mais de 5.000 pessoas participando deste cortejo, para um público de  aproximadamente 50 mil pessoas. Tudo isso acontece nas ruas do centro histórico de Mogi no sábado que antecede o Dia de Pentecostes.

    É a parte da festa com mais forte conteúdo folclórico. Trata-se de um gigantesco cortejo que marca a entrada dos palmitos na cidade. Mário de Andrade, no artigo A Entrada dos Palmitos, analisou essa parte do folclore da Festa do Divino decidindo fazer a ligação entre ela e o culto vegetal da primavera e formulou a seguinte indagação: “de fato, uma tradição me resta esclarecer: os carros de bois usados para o transporte procissional dos palmitos, será simples emprego dos processos regionais de locomoção?” E responde, logo adiante: “o boi está ligado às tradições vegetais da Maia”.

    Depois de estabelecer uma comparação aproximativa entre os enfeites dos bois na entrada dos palmitos, em Mogi, e o enfeite dos bois nas “Maias” européias, Mário de Andrade, conclui que o emprego dos carros-de-bois, como parte da “entrada dos palmitos”, é folclore apenas de Mogi das Cruzes.

    Isso é verdade no que diz respeito a esse aspecto da cultura popular ter chegado até nós. Mas não é válido para o século passado. É Debret quem esclarece esse ponto e nos dá subsídios para discordar de Mário de Andrade. Num outro documento histórico intitulado “Víveres levados à cadeia pela Irmandade do Santíssimo Sacramento”, deparamo-nos com os mesmos personagens da “Folia do Divino“, encontrados anteriormente em outro registro. São os irmãos pedintes com os seus relicários e com os saquinhos de esmolas, tendo o símbolo do Divino neles estampado. Vemos, também, as inconfundíveis bandeiras, tendo no topo a figura simbólica da pombinha do Divino. É impressionante constatarmos que as bandeiras do Divino são hoje exatamente como eram as do início do século passado que, por sua vez, certamente eram iguais às do século anterior.
    Observamos que os membros da Irmandade apresentam uma singular opa (capa sem mangas usada por confrarias religiosas). Os dois membros que aparecem em primeiro plano portando solenemente duas belas bandeiras provavelmente eram os festeiros, pois se distinguem dos demais irmãos por calçarem botas até aos joelhos.
    Portanto, não temos dúvida em afirmar que se tratava da Irmandade do Divino Espírito Santo – e não da Irmandade do Santíssimo – que na véspera do dia de Pentecostes levava abundantes alimentos para os presos. Mas o que mais nos chama a atenção são os dois carros de bois, que aparecem carregados de carne fresca, toicinho, carne seca, feijões pretos, laranjas e farinha de mandioca, conforme vem indicado no texto de Debret. Mais adiante, diz que os carros vêm ornados de ramos de mangueira.
    otemos, portanto, que os carros de bois como transporte na Festa do Divino em Mogi, que tanto impressionaram Mário de Andrade, já eram utilizados no início do século passado no Rio de Janeiro e certamente em outras regiões. Mas não ficam só aí as coincidências. Os carros estão enfeitados não com ramos de mangueira, mas, ao que parece, de mandioca. Ou seriam de palmito? Parece-nos identificar, também, empilhados dentro do carro que está em primeiro plano, palmitos cortados.
    Infelizmente, o escrito de Debret (certamente por ser ele estrangeiro) além de falho é muito lacônico e confuso. Mas isso não lhe tira o grande valor documental.
    O que importa é que o registro é notável, dentro das tradições da festa: seja pelas figuras da Irmandade, seja pelas bandeiras, seja pelo transporte de víveres em carros de bois, enfeitados com folhas que parecem ser palmeiras. Portanto, podemos concluir que os documentos de Debret confirmam as teorias de Mário de Andrade1.
    A entrada dos palmitos representaria, se nos lembrarmos das origens da festa de Pentecostes, a época da colheita, da fartura, significando a chegada dos alimentos2. Exatamente esse alimento, o palmito, é que não faltava aqui na região, sendo abundante na mata atlântica do período colonial. Até algum tempo atrás, cortadas pela raiz, as palmeiras eram trazidas para a cidade em carros de bois, sendo fincadas nas ruas centrais de seis em seis metros.
    Antigamente, após a festa os palmitos eram distribuídos entre os devotos, que comiam o miolo em sinal de devoção e fé3. Hoje, o cortejo é aberto com o bandeireiro. Vêm a seguir, com suas coreografias peculiares e cantando orações apropriadas, os grupos folclóricos da cidade: Congada São Benedito, Congada Santa lfigênia, Marujada Nossa Senhora do Rosário e Moçambique São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
    Segue-se o Imperador menino, com seu séquito, vindo logo atrás os casais de festeiros e capitães-do-mastro, seguidos pelos ex- festeiros, todos com suas imponentes bandeiras. Logo, a seguir, a legião de alferes, também com suas bandeiras, os grupos escolares etc.
    Surge então a Banda Santa Cecília, grupo musical que há quase um século alegra as festas do Divino e mantém viva a tradição da “bandinha de coreto” em Mogi.
    Depois desfilam cerca de 20 carros-de-bois, com animais e veículos lindamente enfeitados com fitas e flores-de-papel, vermelhas e brancas. Antigamente, os carros entravam na cidade carregados de palmitos. Atualmente, pela proibição do seu corte, ameaçado que está de extinção, os carros são enfeitados com folhas de palmeiras, bem como os postes ao longo do percurso. As crianças se aboletam nos carros, carroças e charretes, numa alegria intensa, portando bandeirolas do Divino. Antigamente, elas sentavam-se sobre os palmitos (Morlini & Kato, 1973). É interessante observar que, até à festa de 1993, os carros de bois desfilavam depois dos grupos folclóricos e na frente dos festeiros. Entendemos que essa era a tradição, que, no entanto, foi alterada. Seguindo-se aos carros, também enfeitadas, vem um grande número de carroças e charretes com muitas crianças. Finalizam o cortejo, as várias centenas de cavaleiros do Divino, divididos em grupos com três filas cada um, enfeitados com lenços do Divino no pescoço e, alguns poucos, com fitas e flores nas cores da festa. Há apenas um quarto de século, no entanto, eles eram bem poucos, sendo apenas dezesseis em 1973. O interessante é que, nessa época, participavam também da procissão do dia de Pentecostes, o que não é mais permitido (Morlini & Kato, 1973).
Notas:
1 (Campos, 1996)
2 (Rodrigues Filho, 1990)
3 (Morlini & Kato, 1973)

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